segunda-feira, 26 de abril de 2010






A medida que desenvolvo o projeto pedagógico que propus, materializo um prazer muito grande em relatar como se efetiva esse processo e o resultado obtido na construção da aprendizagem, fato que me desperta surpresa, me impulsiona, me dá prazer... Tanto a vontade de presenciar a forma em que a aprendizagem está acontecendo como o de relatá-la aqui nesse espaço virtual.

Ao desenvolver o assunto "a Chegada dos Europeus"- Assim começa a nossa História, questionei os alunos sobre o que sabiam sobre o início do nosso País, como aconteceu a sua "descoberta".Responderam o que sabiam: -O Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500...Revidei:- Como descoberto? Por que descoberto?Por onde Pedro Álvares Cabral chegou? De onde veio? Por que veio?O que queria? O que encontrou? Silêncio.

Na sequência muita leitura,discussões, questionamentos...Nesse momento a ajuda do mapa Mundi é muito importante, afinal eles queriam saber o trajeto das Grandes Viagens Marítimas, o motivo pelo qual homens se aventuraram em alto mar.Adoraram a roda de conversa e as perguntas se multiplicavam...Resumindo, ao término da aula já estavam apropriados e detentores do seu próprio conhecimento.

Os alunos ficaram fascinados em constatar as diferenças entre as culturas dos povos nativos da América e os portugueses, o fato do encontro entre os dois povos ter causado estranhamento mútuo, pois ambos não podiam compreender a cultura um do outro e sobretudo, a intencionalidade da esquadra de Cabral.

Os alunos amaram o texto no qual o francês Jean de Léry, que esteve na América no século XVI, onde descreve uma conversa que teve com um velho Tupinambá, o qual compartilho aqui:

Culturas Diferentes

- Por que vinde vós, outros, maíres e perós, buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?

- Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos como ele o supunha,ma s dela extraíamos tinta para tingir, tal qual faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente:

- E por ventura precisais de muito?

- Sim - respondi-lhe -, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas,tesouras,espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar.E um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

- Ah! - retrucou o selvagem - tu me contas maravilhas, mas esse homem tão rico de que me falas não morre?

- Sim - eu disse - , morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo:

- E quando morrem para quem fica o que deixam?

- Para os seus filhos, se os têm - respondi, na falta destes, para os irmãos e parentes mais próximos.

- Na verdade - continuou o velho, que, como vereis, não era nem um tolo - , agora vejo que vós outros maíres sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos que amamos; mas estamos certos que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

Adaptado de: Viagem à terra do Brasil, Jean de Léry,1578

Ficou presente para os alunos o sentimento de amor e preservação à natureza dos índios e da ganância exacerbada do portugueses, e como o fato histórico não é isolado ou estanque falamos da condição de explorador e exploração, que o Brasil apesar de tão rico foi colônia de Portugal durante tanto tempo, na condição de subserviência, aos mandatários capitalistas, subserviência que permanece até hoje, apenas com a localização geográfica modificada, onde o capitalismo e o poder se concentram nas mãos de poucos em detrimento da pobreza e sofrimento de muitos.Acredito que trabalhar a história é sempre um exercício de reflexão, de introspecção,na busca de ações e posicionamentos críticos que promovam mudanças...

Dessa forma materializo, nessa trajetória, a consciência que no ensino da História não há um procedimento único, mas práticas plurais, que remetem a um conjunto de encaminhamentos metodológicos significativos , os quais desenvolvem o pensamento crítico, analítico e reflexivo,buscando a formação de sujeitos comprometidos com sua cidadania.

Contextualização da Aprendizagem

Ao desenvolver o assunto Relevo do RS, abordamos as características das diferentes paisagens e as modificações que essas paisagens sofrem pela ação da natureza e do próprio homem.

Buscando alternativas para que se efetive uma aprendizagem interessante e significativa combinei com os alunos a construção de uma maquete para representar as formas de relevo do nosso Estado.

Solicitei aos alunos que formassem grupos de 4 componentes, que escolhessem seu pares utilizando os critérios que considerassem relevantes.

Os pais se envolveram, participaram na compra dos materiais, garimparam e reciclaram materiais junto às crianças o que tornou a atividade realmente interativa.

No desenvolvimento e apresentação das maquetes percebi que a atividade proposta despertou nos alunos o prazer em aprender através da descoberta, onde eles revelam sua autoria,onde a divisão das responsabilidades e o trabalho em equipe, favorecem a socialização e a interação.

Como educadora,acredito que busquei um instrumento diferenciado para avaliar o conhecimento construído pelos alunos, pois nas respostas de uma avaliação formal onde perguntas objetivas e estanques, através de avaliações dissertativas, sugerem respostas memorizadas, seria improvável que eu conseguisse avaliar de forma justa o referido tema.

Vi o brilho, no olhar de cada aluno, o orgulho que sentiram do trabalho construído, o sentimento de serem avaliados por outro instrumento de avaliação.

Enfim, o objetivo proposto foi alcançado com louvor, pois envolveu criatividade,interação, habilidade e prazer em construir a aprendizagem.

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